Conjunto Arquitetônico Palácio das Águias/Casa dos Elefantes
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Sobre o local
O Palácio das Águias e a Casa dos Elefantes, ambos localizados na Rua Pereira do Nascimento, foram construídos pelo imigrante italiano de origem austríaca, José Puntel (conhecido como “Fito” ou “Fitti”). O seu pai, também chamado José Puntel, era um importante construtor italiano, e desembarcou em São Paulo no final do século XIX juntamente com a esposa, Úrsula Puntel, e com seis dos seus sete filhos: Úrsula, Maria Luigia, José Fitti [o construtor do Palácio das Águias e da Casa dos Elefantes], Celeste, Basílio, Oswaldo. O filho mais velho, Luiz Puntel, veio mais tarde encontrá-los, quando eles já residiam em Guaxupé. A vinda da família Puntel para Guaxupé deu-se após uma proposta de trabalho oferecida a José Puntel [o pai] pelo Conde Ribeiro do Valle.
José Fitti era especialista na arte de plasmar no gesso e na argamassa, e usou de toda sua sabedoria para criar as esculturas do Palácio das Águias, erguido em 1914. Ele construiu o imóvel para servir de residência para sua família.
Atualmente, o conjunto arquitetônico do Palácio está em ruínas, e conta com cômodos dispostos de uma forma pouco convencional, pois se apresentam quase como um labirinto. No imaginário popular, existem ali várias passagens e saídas secretas, além de outras peculiaridades passíveis de serem percebidas apenas lá. Muitos populares afirmam que existem túneis ligando o Palácio das Águias à antiga Estação Ferroviária de Guaxupé (FEPASA), pois, como os imigrantes italianos começaram a sofrer perseguições depois que o Brasil declarou guerra ao Eixo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), estes túneis seriam uma rota de fuga da família Puntel, caso eles precisassem abandonar a cidade às pressas. Outros guaxupeanos dizem que também existem túneis ligando o Palácio das Águias à cripta da Catedral de Nossa Senhora das Dores, onde estão sepultados alguns bispos de Guaxupé.
Assim, ao longo das décadas, surgiram muitas lendas urbanas a respeito do Palácio. Carregado de figuras quiméricas ou grotescas, como gárgulas, medusas, estátuas humanas, leões alados, águias alçando voo e outras referências da cultura medieval, o edifício foi encarado pela população como um local “mal assombrado, construído por um entusiasta do fascismo que possuía 3 filhos: Hitler, Franco e Mussolini, todos loucos”. Reza a lenda que o pai era muito austero e tratava os filhos com bastante rigidez.
Esta história de que o Palácio das Águias é um lugar assustador e macabro se fortaleceu no imaginário popular porque, entre outros fatores, o construtor do imóvel, José Puntel, era também construtor de sepulturas. Entretanto, segundo os Puntel, muitas das histórias que a população conhece a respeito deles e do Palácio não são verdadeiras. De acordo com depoimentos de integrantes da família, o arquiteto italiano de origem austríaca, conhecido como “Fito”, teve vários filhos. De seu casamento com Marieta David, realizado em São Paulo no dia 14 de agosto de 1948, deixou: Homero, Sócrates, Orlando, Aurora e José Puntel Filho. De seu segundo casamento com Maria Trankis, deixou: Iolanda, Luzia, Adne, Marioni, Mussolini, Hitler e Maria.
Segundo Luciano Puntel, neto do “Fito”, apenas um dos filhos do avô, o Mussolini, teve problemas mentais, por uma fatalidade: “ele sofreu um acidente aos 6 anos de idade, quando caiu de uma das torres do Palácio das Águias e ficou com graves sequelas no cérebro. Este desagradável incidente com Mussolini acabou resultando na construção de vários mitos em torno do Palácio. Luciano diz ainda que seu avô “era sim fascista, e tinha uma personalidade rígida, mas nada que se possa definir como um pai que torturava os filhos”. Vários integrantes da família Puntel são categóricos em afirmar que “Fito” nunca maltratou nenhum de seus filhos, como dizem alguns populares. Desta forma, os Puntel tentam desconstruir os mitos e as lendas urbanas envolvendo o Palácio das Águias que permeiam o imaginário popular.
O bem cultural perdeu algumas de suas características originais devido à ação degradante do tempo, e devido às reformas e adaptações aos vários usos sequenciais a que foi submetido. Mesmo assim, o prédio se destaca dentro da arquitetura de Guaxupé, como obra de artista original e como exemplo da tendência estilística colocada pelo ecletismo.
Todavia, sua importância extrapola o âmbito local, e ainda hoje as suas ruínas adubam a imaginação de muitos técnicos e leigos curiosos, que transmitem às novas gerações as várias lendas urbanas surgidas a seu respeito. Foi o que ocorreu, por exemplo, em abril de 2011, quando o Palácio das Águias foi utilizado como cenário para a realização de parte das filmagens do longa-metragem, "Quimera sobre Ópio e Pandora", concebido por Flávio Citton, e aprovado e patrocinado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de Uberlândia-MG. A direção de arte e produção contaram com a assinatura de Castor e Luana Magrela. Flávia Amaro, formada em Ciências Sociais e que acompanhou o grupo, fotografou o local e publicou no seu blog (https://flaviamaro.wordpress.com/2010/06/14/palacio-das-aguias-guaxupe-mg/). Dessa forma, os mistérios acerca do Palácio das Águias repercutiram nacionalmente.
Casa dos Elefantes
Já a Casa dos Elefantes foi construída em 1931. O bem destaca-se por sua fachada extremamente decorada e elementos escultórios de fatura original e aprimorada, tais como janela movimentada e colorida; consoles de suporte e sacada em forma de cabeças de elefantes; decoração naturalística e, ao mesmo tempo, classicizante. Os detalhes construtivos sobressaem-se sobre qualquer rigor ou racionalismo de planejamento.
O prédio passou por uma ampla reforma entre 2015 e 2017. A parte superior serve de uso residencial, enquanto que o piso térreo é alugado para fins comerciais.
Desde o final década de 1980 falava-se na importância de tombar o conjunto arquitetônico Palácio das Águias/Casa dos Elefantes, por se tratar de dois imóveis de grande referência para os moradores da cidade, que muito admiram não só as suas características arquitetônicas, como também as histórias que são contadas sobre eles. Assim, as duas edificações são objeto de curiosidade pela originalidade da sua arquitetura eclética, onde o tratamento aprimorado denota alta criatividade artesanal de seu construtor.
